domingo, 1 de maio de 2011

Eclipse Total do Sol




As comissões do Eclipse solar de 1919
Terminada a Primeira Guerra Mundial, os cientistas voltaram a ter condições de reiniciar suas atividades normais de pesquisa. O eclipse de 29 de maio de 1919 despertou assim a atenção dos astrônomos e físicos, e deveria ser aproveitado ao máximo. Outros fenômenos solares, como as protuberâncias e a constituição da coroa, podem também ser melhor estudados durante a ocultação. O eclipse de 1919 tornou-se assim um fenômeno de grande importância.
A Comissão americana
A Comissão Americana pertencente ao Carnigie Institution de Washington chegou em Sobral, juntamente com a brasileira, no dia 9 de maio. Era composta do Dr. Daniel M. Wise, especialista em magnetismo terrestre, e do Dr. Andrew Thonpson, especialista em fenômenos atmosféricos. O objetivo principal desta comissão foi medir os efeitos do eclipse sobre o magnetismo terrestre e sobre as propriedades elétricas do ar na ausência dos raios solares. A comissão americana instalou seu observatório na Praça do Patrocínio e se hospedou na residência do juiz José Saboya de Albuquerque.
Comissão brasileira
A Comissão científica brasileira enviada pelo Observatório Nacional do Rio de Janeiro, e chefiada pelo Dr. Henrique Morize, era composta de oito membros: Dr. Domingos Costa, astrônomo; Dr. Lélio Gama, calculador; Dr. Teófilo Lee, geólogo e químico; Dr. Luiz Rodrigues, metereologista; Dr. Alírio de Matos, astrônomo; Artur de Almeida, mecânico; e, Primo Flores, auxiliar. O desembarque se deu às três horas da tarde, do dia 09 de maio, na estação ferroviária de Sobral, procedente da cidade de Camocim, aonde chegara no dia quatro do mesmo mês, no navio de passageiros João Alfredo.
O posto de observação desta comissão foi montado na Praça do Patrocínio e tinha como principal objetivo fotografar a coroa solar para determinar sua extensão, testar a teoria da relatividade e, finalmente, fotografar o espectro da coroa para determinar sua composição e tentar medir a velocidade de sua rotação.
 Comissão inglesa
A missão mais importante cabia à Comissão Inglesa composta pelo Dr. Crommelin, secretário da Royal Astronomy society e Assistente do Observatório de Greenwich, e do Dr. C. Davidson, astrônomo do mesmo observatório. Os integrantes saíram de Liverpool, no dia 8 de março, no navio Anslm, chegando a Belém do Pará 23 do mesmo mês. Passaram um mês na Amazônia. No dia 24 de abril tomaram em Belém o navio Fortaleza, no qual viajaram até Camocim, onde chegaram no dia 29. No dia seguinte, vieram de trem para Sobral, onde foram recebidos pelo prefeito municipal Dr. José Jácome Oliveira, e também pelo Mons. José Ferreira, representante do Bispo Diocesano. O Cel. Vicente Sabóia, então deputado federal, deu guarita à comissão, que montara seu posto de observação  no hipódromo do Jockey Clube, então localizado em frente da casa em que ficara hospedada.
Como a comissão viu Sobral
Em artigo publicado na revista londrina Conquest, de janeiro de 1920, p. 129. C. Davidson assim se referiu à cidade no trecho que traduzimos: “Sobral é uma cidade do Estado do Ceará, a segunda depois de Fortaleza que é a Capital. Tem cerca de 10.000 habitantes e fica as margens do rio Acaraú. Até quando não faltam chuvas, o Ceará é um estado fértil. Infelizmente, isto nem sempre acontece e o resultado é uma desastrosa seca. Era esta a situação durante o tempo de nossa permanência. Nós chegamos no final da estação chuvosa, mas nenhuma chuva tinha caído, e nem era esperada antes de janeiro do ano seguinte. A população já estava se retirando do campo para as cidades e muitos tinham deixado o próprio estado para regiões mais favoráveis da Amazônia e do sul do Pais. O rio estava quase seco e a água para o consumo da cidade era retirada de cacimbas cavadas no leito arenoso que lentamente a filtrava”, concluiu o astrônomo.
 Por que a Comissão veio a Sobral
 Consultando um mapa da trajetória da sombra daquele eclipse, vê-se que ela começa no Pacifico, perto da costa ocidental do Peru, passa sobre o Nordeste do Brasil, atravessa o Atlântico rumo a África onde atinge a costa da Libéria e cruza a África Central, terminando no mar perto da costa oriental africana. A primeira providencia a ser tomada foi encontrar nesta linha de sombra os locais mais apropriados para onde enviar os observadores. Foi necessário considerar a facilidade de acesso, a altura do sol no momento do eclipse e as possíveis condições meteorológicas com relação as nuvens. Estes estudos foram feitos no observatório de Grrewich pelo Dr. Hinks.
No Peru, o sol estaria muito baixo, pois apenas apenas surgira no horizonte. Na África Oriental estaria também muito baixo, pois o ocaso seria próximo. Nas ilhas de São Pedro e São Paulo, no meio do Atlântico, o sol estaria a pino, mas uma estação ali seria impraticável já que são apenas rochedos isolados no mar e seu cume coberto de guano. A Libéria seria aceitável tanto com relação a duração da totalidade, como da altura do sol, mas estava no meio da estação chuvosa e as probabilidades de bom tempo eram problemáticas. No lago da Tanganica, a montagem da estação seria bastante onerosa e também as condições meteorológicas não seriam favoráveis. Os astrônomos do observatório de Greenwich decidiram, então, enviar duas expedições: Uma à cidade de Sobral e outra à Ilha do Príncipe, costa ocidental da África. Nestes dois locais, o sol estaria numa altura de 45º e a duração total do eclipse seria de cinco minutos. As condições nestes dois locais eram as melhores possíveis.
Como a comissão inglesa viu o Eclipse
"Em Sobral o Eclípse começará às 7 horas e 46 minutos (hora oficial do Rio de Janeiro). Logo depois o observador verá uma pequena sombra na parte superior do Sol, e, a proporção que o Eclípse vai aumentando, esta sombra aumentará á medida que a luz for se aproximando do disco solar, até ficar apreciavelmente menor às 8 e 56 minutos.
O Sol será totalmente obscurecido nesse momento e a escuridão cobrirá a face da Terra.
Quando os últimos traços solares desaparecerem, este maravilhoso apêndice - a coroa será vista brilhante com a sua própria luz.
As mais brilhantes estrelas serão visíveis e, a uma pequena distância acima do Sol, o planeta Mercúrio poderá ser visto mais brilhante do que uma estrela de primeira grandeza.
A obscuridade completa do Eclipse durará cinco minutos e então, como o Sol emerge detrás da Lua, a coroa desaparece. A Lua, então, pouco a pouco, passará do Sol, repetindo em ordem inversa, os mesmos fenômenos do começo."

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