terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Joguinho Noturno no Patamar


Brincar na Praça da Sé, de tarde ou de noite, era uma delícia. Afinal de contas, ali era o nosso ponto de encontro, o nosso reduto.

Toda noite a meninada se reunia naquele logradouro. Vinha gente de toda parte. Era menino que não acabava mais.

Diariamente inventávamos uma brincadeira diferente. Exceto quando havia alguma festividade na catedral, como, por exemplo, novena, procissão, ou coisa parecida. 
No período da noite o ponto de concentração era as escadarias da Igreja da Sé. Logo depois do jantar, entre seis e meia e sete horas, a meninada começava a chegar. E ao momento em que um número razoável de meninos se formava, começava a brincadeira. Se brincava de tudo, mas a preferencia recaia sobre o futebol no patamar. Ah!, era uma delícia!
Mas, por incrível que pareça, o jogo da noite no patamar da igreja, só dava rolo. Talvez porque a garotada fizesse muita algazarra. A turma falava alto, discutia, dizia bastante palavrão, perturbando o tranqüilidade dos moradores da praça. 

Por algum tempo jogamos futebol no patamar da “Igrê-da-Sé” (era assim que a meninada pronunciava) sem que ninguém nos perturbasse. Era uma tranqüilidade, mas a partir de um determinado tempo a situação começou a complicar, talvez pelo excesso de palavrões e algazarra, os moradores da praça começaram a reclamar junto ao padre Domingos Araujo, o vigário da catedral. 

Depois das tais reclamações ficou proibida a prática do futebol no patamar da catedral. Mesmo assim, nunca deixamos de praticar a nossa “pelada” noturna. E quando estávamos no melhor do jogo, aparecia o Sr. Eduardo, o sacristão da Sé, para acabar com a festa. Ele aparecia sempre de surpresa, quando menos esperávamos. Era um saco! Pois tínhamos que paralisar o bate-bola e ouvir um sermão daqueles. E o interessante era que logo que o Sr. Eduardo Sacristão aparecia a turma [principalmente aqueles que tinham maior habilidade com a bola], tratava de colocar o bondoso Sr. Eduardo na roda. Explicando melhor: a turma se espalhava e ficava passando a bola um para o outro, colocando o Sr. Eduardo na roda, que nem um bobo. Ele nunca conseguiu pegar a bola, mas por um bom tempo atrapalhava a nossa brincadeira.

Corria um boato entre a meninada que a ideia de proibir a prática do futebol [com bola de meia] no patamar da Igreja da Sé partiu do Sr. João Linhares, o pai de João Bosco, um dos meninos que também participavam da “pelada” noturna naquele local. O Sr. Linhares, que era uma pessoa muito carola e fazia parte de tudo quanto era irmandade religiosa da cidade, teria pedido ao padre Domingos que proibisse o nosso jogo no patamar. Por este motivo o Sr. João Linhares passou a ser chamado pela meninada da praça, de Cabo João, apelido este que deixava o João Bosco louco da vida.

Relato de Dias Lopes, integrante do Saudosismo Sobralense

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