quinta-feira, 15 de junho de 2023

BARBEIROS DE SOBRAL





Por : Wilson Belchior  

Em : 15 / 06 / 2023 

Em Sobral haviam muitos barbeiros, alguns deles fizeram história. 

Antônio Félix Ibiapina, Irapuan Cumbuca, Chico Moreno, Pompeu, Chico Ponte, Jacó Lopes, Marciano, Mestre Albino, Chico Bento, João Gameleira, Chico Camerino, Mizé, Poço Verde, Joãozinho, Otávio, Mestre Sitônio, Chico Marques, Onofre Oliveira, Baiano, Sebastião Carlos, Irineu Carlos, Macedônio, e outros. A lista dos conhecidos ultrapassa os cinquenta, e dentre eles se destacaram: 

1. Antônio Félix Ibiapina, com salão na rua Ernesto Deocleciano, vizinho esquerdo da casa de ferragens do seu Osvaldo Rangel, em frente a Casa Samuel. Cortava os cabelos das pessoas tradicionais, como: Chico Monte, Toínho Almeida, Júlio de Lima Rodrigues, Dr. Frutuoso, filhos do seu Samuel Ponte e outros.

2. Irapuan Cumbuca, bom amigo de Antônio Félix, tinha salão na Rua da Aurora, nos fundos da farmácia São José, das irmãs Napoleão, Maria, Margarida e Lúcia. Em seu salão trabalhavam três barbeiros: Ele, o Mizé, e o Joãozinho. O Irapuan, mesmo atendendo sua clientela, não parava de falar, sobre os fatos que ocorrera em nossa Sobral, e os clientes dos três não paravam de rir. 

3. Chico Moreno, esse não possuía salão, cortava na rua, fiado, o cabelo da meninada, para receber só no próximo corte, quando recebia o corte anterior. Exercia sua atividade, em muitas ruas e logradouros de Sobral, dentre os quais, rua Santo Antônio, onde cortava os cabelos dos filhos de Srs. Otávio Belchior, Pedro Madeira, Barroso, Itamar Lima, Rangel, Otávio Torres, Ribeirinho, Cândido Rios, etc, na Praça do Siebra, cortava os dos filhos do seu Huet de Arruda Coêlho, e de outros pais, que possuíam famílias numerosas.

Gabava-se dos seus equipamentos, de sua máquina de cortar, navalha, bicicleta Philips, na qual se desloca, e dizia não haver equipamentos iguais, nem no Museu Dom José. Realçava sua navalha alemã Soling, presente de uma de suas namoradas, que a havia recebida como pagamento de um velho marinheiro alemão.

Tinha ele outra especialidade, ouvi dizer, quando eu era menino, qual seja a de aparar e pentear a mata ciliar dos pelos pubianos das "meninas" da Dozinha ( Maria Doralice Silva ), com especial atenção para os da Terezona, por quem se apaixonou. 

Mas sobre o Chico Moreno, a história é rica e longa, e falarei com detalhes, em outra oportunidade...

ANTÔNIO FELIX IBIAPINA 

BARBEIRO EM SOBRAL

Em Sobral Antônio Félix, era tido por todos como um homem de bem, sobre isso a ninguém pairava a menor dúvida. Era juiz de partida do Derby Clube Sobralense, traumatologista de animais nas fazendas e ortopedista de meninos, e complementava sua renda, como barbeiro em Sobral.

Só para lembrar, seu Antônio Félix, além das múltiplas funções, era Funcionário Público Federal, lotado no Posto de Criação da raça Bovina Caracu, situada em Sobral, no bairro do Mocambinho, que era vinculada à repartiçao do Fomento Agrícola e Agropecuário, uma sucursal do Ministério da Agricultura, com sede em Fortaleza.

Porém ele era muito afobado. Contavam em Sobral, que certa vez, Antônio Félix estava fazendo a barba de um novo cliente, tendo já raspado a mesma pela metade, quando necessitou ir ao banheiro, avisou ao cliente para lhe esperar. Sem opção o cliente aquiesceu. 

Voltando do banheiro ouviu do cliente:

- Mas Antônio Félix, você foi ao banheiro e demorou mais de meia hora, e eu aqui fiquei a lhe esperar com a metade da barba e do bigode já ensaboados, por fazer. Isso não é correto.

- Antônio Félix, com sua forma “gentil” respondeu:

- E daí, o que é que tem? Isso não é nada, eu como muito e tenho que demorar muito no banheiro, é o normal para uma pessoa sadia como eu. Você tem que aprender a ser mais paciente.

- Paciente! Você pelo menos lavou as mãos?

- Para que, se ainda tenho que terminar sua barba e bigode.

- O cliente ao ver Antônio Félix pegar a navalha para afiar e reiniciar os trabalhos, apavorou-se, jogou no chão o pano que o protegia, levantou-se, e saíu com a metade da barba e bigode por fazer. 

Entrou e percorreu o Beco do Cotovelo, sob a gozação dos amigos, indo para casa, onde pessoalmente concluiu os serviços.

Não ouví contarem em Sobral, se Antônio Felix exigiu que o novo cliente, antes de deixar seu salão, pagasse a metade do que fizera, mas a julgar por seus modos, creio que sim.


quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

AS PRIMEIRAS RUAS DE SOBRAL

 



Em 1773, segundo o livro foral do Patrimônio de N. S. da Conceição, existiam as seguintes ruas em Sobral:

"RUA N. S. DO CARMO"; que hoje é a ala de casas da Praça da Sé, do lado nascente. .

"RUA DETRÁS DA MATRIZ".

"RUA. DEFRONTE DA MATRIZ".

RUA DEFRONTE DA PORTA TRAVESSA DA MATRIZ", lado ocidental da Praça da Sé.

"RUA DO RIO", atual das Dores.

"RUA N. S. DOS MILAGRES", lado norte da Praça D. Jerônimo Tomé.

"RUA DO NEGOCIO", atual do "Menino Deus", que também se chamou Rua Grande e Rua da Penha

"RUA N. S. DO BOM PARTO", depois Santo Antonio e, atualmente, "Pe. Fialho" (14 abril 1883).

"RUA DA BEIRA DO RIO", que corre detrás da capela das Dores.

"RUA DEFRONTE DA CADEIA ", na atual Praça da Sé no correr da atual Rua "Ernesto Deocleciano.

"RUA CAMPINA DA JUREMA", atual "Praça da Várzea", nos fundos da Capela de S. Antônio.

"RUA DA GANGORRA", depois "Apolo"; era a continuação da de N. S. dos Milagres. (Era este o núcleo primitivo da primeira povoação de Caiçara, sem alinhamento e sem praças. Muitas dessas casas foram no decurso do tempo demolidas ou levadas para o alinhamento, e eram na sua maioria baixas e pequenas, como as que ainda se encontram à Rua das Dores. O nome atual da rua é Rua Cel. Ernesto Deocleciano.

Só mais tarde, depois de 1795, surgiram as primeiras casas do bairro do Rosário, também construídas sem ordem e sem alinhamento. É justamente a parte mais irregular da cidade.

Desse tempo datam a "Rua Velha do Rosário", atual "Coronel José Saboia" (14 de abril 1883); a "Rua Nova do Rosário", depois Coronel Campelo, atual "Ernesto Deocleciano", a "Rua Larga do Rosário", atual "Rua do Marinho" (11 janeiro 1883).


Rua da Aurora, hoje Domingos Olímpio, e Senador Paula (atual Dom José), também se integraram ao conjunto de principais ruas da cidade, demarcando uma nova fase de evolução urbana de Sobral.

Informações do Livro História de Sobral, de Dom José Tupinambá da Frota.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Segundo Mercado Público de Sobral



Histórica foto do velho Mercado Público na hoje praça Dr. José Saboia, que mostra claramente seu lado norte( frente para o comércio do Radier ), onde eram vendidas frutas sazonais e verduras, água para beber, lenha para fogões, feijão, milho verde, queijos vindo de Groaíras, além d'outros bens necessários ao consumo diário. O outro lado(lado poente), com frente para a Rua Ernesto Deocleciano, era chamado de Pedra, onde eram negociados, gêneros produzidos principalmente na Meruoca, tais como milho em grãos, feijão, farinha, e realizadas troca de animais.

Informações de Wilson Belchior

domingo, 2 de janeiro de 2022

Introdução e evolução do futebol sobralense

Todo esse material foi tirado da Cronologia Sobralense, do cônego Francisco Sadoc de Araújo (2015), vol 5.

"Havia muito mais que time em Sobral no passado. Isso enfraquece a hipótese do Guarany ter sido criado em 1919. Tudo indica que ele era anterior". 

Dr. Herbert Rocha.



Introdução e evolução do futebol sobralense

3 de maio 1914 (Domingo): É inaugurado o primeiro campo de futebol da cidade de Sobral, na praça Rodrigues Júnior, hoje praça do Menino Deus. Foi preparado pelo “Club Sportivo Sobralense”, presidido pelo jovem Samuel Gomes da Ponte, com duas equipes: “Sobral Football” e “Sulamericano”. O primeiro jogo, nesse dia, teve o extravagante resultado de 23 x 20 a favor do Sobral. Cada equipe, segundo a imprensa que noticiou o fato, era composta de nove jogadores: 1 gol-quíper (sic), 2 beques, 2 hall-beques e 4 centros. Quinze dias depois, já estavam organizadas quatro equipes de onze jogadores: “Sobral Football”, “Sulamericano”, “Ipiranga” e “Guarani”, todas filiadas ao “Club Sportivo”. Havia ainda o “Yankee Sport Club” que não se filiou.
Foi também construído outro campo na Praça da Meruoca. Os jogos aconteciam a cada domingo e a imprensa dá amplo destaque às partidas. Quando os times foram organizados com onze jogadores, os gols diminuíram sucessivamente. Assim começou a história do futebol sobralense. O Jornal “A Lucta” publicou os estatutos do “Club Sportivo”.

11 de outubro 1914 (Domingo): Primeiro jogo de futebol do recém-criado “Guarany Sport Club” que venceu o “Ipiranga” por 2x1 no campo da Praça da Meruoca.

16 de janeiro 1920 (6ª-feira): É fundado o “Sobralense Futebol Club” por iniciativa de José de Freitas Filho e Joaquim Demétrio de Sousa. Os Estatutos foram aprovados em Assembléia Geral de 9 de abril.

21 de janeiro 1920 (4ª-feira): O “Sobralense Futebol Club” vence jogo com a seleção do Ipu, por 1x0. Jogou com a seguinte escalação: “Saboia, Alderico e Horizonte, Felizardo, Lourival e Freitas, Figueiredo, Itamar, Pinto, Albuquerque e Joanito”

9 de abril 1920 (6ª-feira): Em Assembleia Geral são aprovados os estatutos do “Sobralense Futebol Club”, sendo primeiro presidente José Silvestre Saboia de Albuquerque.

30 de setembro 1920 (5ª-feira): O América Futebol Club, de Sobral, empossa sua nova diretoria, sob a presidência de João Figueiredo.

10 de outubro 1920 (Domingo): O América Futebol Club empata com o Camocim em jogo realizado no campo do Jockey Club Sobralense. O América Sobralense alinhou com Thier, Bruno e Simão, Martins, Tupã e Gaspar, Joanito, Teixeira, Pinto, Horizonte e Lalá.

5 de junho 1921 (Domingo): Tem início o campeonato sobralense de futebol com a participação de quatro equipes: América, Brasil, Ceará e Sobralense. No primeiro jogo, cujo resultado foi Ceará 1 x América 0, serviu de Juiz o Jornalista Deolindo Barreto.

1º de setembro 1921 (5ª-feira): É fundada a “Liga Desportiva Sobralense”, órgão coordenador das equipes de futebol locais.

26 de julho 1925 (Domingo): No campo da Cruz das Almas, sensacional jogo de futebol entre o “São Cristóvão” e “São Paulo”,  locais para decisão do campeão da cidade. O resultado foi 1x0 a favor do primeiro.

27 de setembro 1931 (domingo): No campo da Cidao, encontro de futebol entre equipes locais do Fabril 1 X Orion 1.

28 de junho 1932 (3ª-feira): é reestruturada a Liga Desportiva Sobralense, fundada a 1º de setembro de 1921, com a participação de três clubes: Sobral Atlético Club, Carioca Sport Club e Orion Futebol Club. Foi eleito Presidente da Liga o Dr. Francisco Pessoa de Araújo.

8 de setembro 1936 (3ª-feira): De regresso a Fortaleza, vira o ônibus em que viajavam os atletas de futebol do “Maguari”, que haviam jogado em Sobral no dia anterior. Vários deles receberam ferimentos.

3 de julho 1938 (domingo): Fundação do “Guarany Sport Club”, agremiação de futebol hoje pertencente à primeira divisão de clubes cearenses. Nasceu por iniciativa do desportista Gerardo Magela Frota.

11 de outubro 1942 (domingo): No campo da Cruz das Almas, jogo final do campeonato sobralense de futebol. Sagrou-se campeão o Carioca que venceu o Cruzeiro, com o resultado de 2 X 0.

17 de outubro 1942 (domingo): Em jogo de estreia no Campeonato Intermunicipal de Futebol, Sobral vence Ubajara por 11x0.

9 de fevereiro 1949(4ª-feira): Vencendo o selecionado de Cascavel por 3x1, Sobral sagra-se Campeão do Ceará, no Torneio Intermunicipal de Futebol.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

A saga de Branca Dias, de quem descendem muitas famílias sobralenses







Branca Dias e seu marido, Diogo Fernandes Santiago, deixaram vasta descendência.Muitas famílias SOBRALENSES descendem de Branca Dias.
O ano de nascimento de Branca Dias é estimado como sendo 1515 a partir de depoimentos dados por terceiros ao Tribunal do Santo Ofício. O ano aproximado de sua morte em Pernambuco é conhecido graças ao depoimento de um neto de Branca que veio a ser exilado do Brasil por prática de sodomia. Em sua inquirição ocorrida no ano de 1595, o jovem Jorge de Sousa afirma ter conhecido sua avó, Branca Dias, e diz que ela teria morrido seis ou sete anos atrás, ou seja, entre 1588 e 1589[2].
Com uma existência entre história e lenda, considerada uma das heroínas do Brasil Colonial e de Pernambuco, Branca Dias foi, no Brasil do século XVI, a primeira mulher portuguesa a manter uma «esnoga» (sinagoga) em suas terras, a primeira «mestra laica de meninas» e uma das primeiras «senhoras de engenho».
Denunciada pela mãe e pela irmã e presa pela Inquisição nos Estaus, em Lisboa, Branca Dias embarca para o Brasil com sete filhos, juntando-se ao marido, Diogo Fernandes, vivendo ambos entre Camaragibe e Olinda, onde tiveram mais quatro filhos (também educou uma enteada, Briolanja Fernandes).
Com a primeira visitação do Santo Ofício ao Brasil, em finais do século XVI, filhos e netos de Branca Dias são presos sob a acusação de reconversão ao judaísmo e enviados para Lisboa, onde foram igualmente punidos em autos-de-fé.
Sua história é cheia de nuances: da infância no Minho à velhice em Olinda, a sua prisão em Lisboa, a existência perturbada no engenho de açúcar, o levantamento da casa grande de Camaragibe e da casa urbana da rua dos Palhares (ainda hoje existentes), o convívio com Duarte Coelho, primeiro capitão donatário de Pernambuco, a morte de Pedro Álvares da Madeira, comido pelos tupinambás, o candomblé dos escravos pretos, os terrores de uma nova geografia e uma nova fauna, o martírio do povo miúdo português no Novo Mundo.
Com direção de Samy Waitzberg, o curta documental Branca Dias faz um resumo biográfico da personagem através de uma entrevista com o pesquisador cearense Cândido Pinheiro Koren de Lima.[3]

Halloween do Recife: Conheça a lenda do fantasma de Branca Dias

A lenda fala sobre uma judia, chamada Branca Dias, que foi perseguida e morta pela inquisição católica.



Pouco conhecida pela população em geral, a judia portuguesa Branca Dias, que viveu no século 16 entre Portugal e Brasil, deveria merecer muitas páginas nos livros de História, e especialmente na história de Pernambuco e de Camaragibe. Símbolo de resistência à opressão e ao obscurantismo, ela sobreviveu à Inquisição e foi uma das primeiras mulheres a atravessar o Atlântico, vindo juntar-se ao marido, Diogo Fernandes, em 1545, trazendo sete dos onze filhos que veio a ter. Mesmo não muito divulgada, sua vida já foi homenageada em músicas, histórias em quadrinhos, livros e até um videodocumentário. Ah, dizem que seu fantasma assombra os visitantes de um riacho na zona oeste do Recife.

Ainda nos primórdios do Brasil Colônia, o comerciante português Diogo Fernandes ganhou de Duarte Coelho a sesmaria de Camaragibe, onde deveria fundar um engenho de cana (onde hoje fica a Casa de Maria Amazonas, na entrada da cidade de Camaragibe). Era 1540. Diogo veio na frente preparar o terreno para trazer a família para o Brasil, deixando Branca e os filhos em Portugal, onde ela terminou sendo delatada ao Santo Ofício pela própria mãe e uma irmã (também encarceradas), e presa nas masmorras de Lisboa. Ali, Branca passou dois anos terríveis, sem contato com os filhos e, depois de solta, conseguiu fugir para o Brasil.


Mas aí já era 1545 e Diogo Fernandes havia tido uma filha com Madalena Gonçalves, a empregada que viera com ele de Portugal. A menina chamava-se Briolanja Fernandes. Apesar da decepção, Branca Dias perdoou o marido e aceitou que tanto a menina como a mãe dela continuassem vivendo em sua casa.  

Pioneirismo 

Branca Dias não somente era uma das raras mulheres que sabiam ler no Brasil do século 16. Foi também a primeira judia a praticar o judaísmo nas Américas. Ela e o marido tinham, além do engenho, uma casa em Olinda. Em ambas as casas, mantinham espaços secretos para os cultos judaicos (esnogas), onde reuniam outros criptojudeus, como eram conhecidos os cristãos-novos que continuavam a praticar secretamente o judaísmo, sob constante ameaça de serem delatados à Inquisição. 

Escola para moças 

Contam os relatos históricos que, por volta de 1555, os índios tupinambás atacaram o Engenho Camaragibe, acabaram com o canavial e derrubaram suas edificações, inclusive a Casa Grande. Prenderam o sócio de Diogo Fernandes, Pedro Álvares Madeira, e o devoraram em um ritual antropofágico. Destruído o engenho, Branca decidiu abrir uma escola de moças em Olinda, com o intuito de ajudar no orçamento doméstico. Eram muitas bocas a alimentar, pois o casal já tinha sua prole completa, constituída por três filhos e oito filhas, dentre os quais Brites, que nascera corcunda e deficiente mental, e Manoel Afonso, que nasceu sem os braços. Essas crianças foram, inclusive, alvo de atenção especial dos pais. Branca, pessoalmente, ensinou Manoel Afonso a escrever com os dedos dos pés; e, para Brites, guardou a digníssima função de ser a “guardiã da Torá”, coisa incomum às mulheres.

Após o falecimento de seu marido, em 1567, Branca tornou-se a primeira senhora de engenho de que se tem notícia, permanecendo dez anos à frente do que sobrara do Engenho Camaragibe, já que a maior parte das terras teve que ser vendida. Com tantos filhos para criar, e diante das dificuldades, mudou-se para Olinda, onde fundou a  primeira Escola de Prendas Domésticas do Brasil. E assim passou a se dedicar totalmente à educação de meninas “para o disputado mercado matrimonial”, ensinando a elas boas maneiras, a lavar, costurar, cozinhar e tomar conta de uma casa. Branca morreu em 1574. 

Lenda 


Branca Dias não foi só a primeira professora de meninas, nem a fundadora da primeira sinagoga de Pernambuco, nem a primeira senhora de engenho. Ela também virou personagem de uma conhecida lenda. Dizem que o Riacho do Prata, em Dois Irmãos, tem esse nome porque ela teria lançado suas joias de prata ali quando soube da chegada da Inquisição ao Brasil. E que até hoje o fantasma dela permanece nas redondezas, vigiando seu tesouro afundado. 

Sobre essa assombração, Carlos Drummond de Andrade escreveu estes versos: ‘É acusada de judaísmo/ Já vão prendê-la/ Atira joias e prataria na correnteza/ A água vira Riacho de Prata/ Morre queimada no santo lume da Inquisição em Portugal/ Reaparece na Paraíba, em Pernambuco/ Sob o luar toda de branco/ Sandálias brancas e cinto azul-ouro…’  

Descendentes 

Fascinante, a vida de Branca Dias inspirou diversas obras, como livros (Memórias de Branca Dias, de Miguel Real; Branca Dias, O Martírio, de Arnaldo Niskier; e Branca Dias, de Cândido Pinheiro Koren de Lima); a peça O Santo Inquérito, de Dias Gomes; a canção Branca Dias, de Edu Lobo; outra música de mesmo nome, da cantora brasileira Fortuna Safdié (que gravou um clipe com a participação de Lia de Itamaracá); o documentário Branca Dias, Identidade, Perseguição e Resistência, de Samy Waitzberg.  

A versão fantasmagórica de que ela assombra os visitantes do Riacho do Prata está retratada nas histórias em quadrinhos Assombrações do Recife Antigo, da pernambucana Roberta Cirne, e A Máscara da Morte Branca, do baiano Alexey Dodsworth.  

Fantasma ou não, Branca Dias vive em muitas almas nordestinas. Com uma descendência gigantesca, o casal Branca e Diogo Fernandes está na origem genealógica do povo judeu que vive até hoje nesta e em outras partes do país. Começando pelos 11 filhos e 27 netos, sua descendência tem hoje, entre outros milhares, a cantora Marisa Monte e o político Ciro Gomes, por exemplo. 

Fontes consultadas: 
RODRIGUES, Maria de Lourdes Neves Baptista. Disponível em: http://engenhosdepernambuco.blogspot.com.br/ Data de acesso: dia/mês/ano
http://www.morasha.com.br/ 
Wikipedia
http://www.orecifeassombrado.com/tag/riacho-do-prata/
BRANCA DIAS – Identidade, Perseguição, Resistência (2020), de Samy Waitzberg 



 



domingo, 12 de dezembro de 2021

A ILUMINAÇÃO ELÉTRICA DE SOBRAL

 


Nestas notas, cabe a vez de recordar um episódio intimamente relacionado com o primeiro projeto de fornecimento de luz elétrica à minha cidade natal.

Não fora, agora, o meu depoimento, passaria ignorado.

Em setembro de 1916 residia em Sobral, onde me havia estabelecido àquele ano, no mesmo prédio (construído em 1873) que fora sede da firma comercial de meu falecido pai durante longo tempo e ainda hoje de minha propriedade.

Oscar Harry Barnett

J. Adonias & Cia., de Camocim, de quem era eu agente em Sobral, telegrafaram-me para receber o Sr. Oscar Harry Barnett, norte-americano, gerente da Standard Oil em Fortaleza e que pela primeira vez visitava os seus clientes da zona norte.

O trem de “lastro” em que ele viajara, chegou a Sobral às quatro e meia de uma tarde abrasadora.

Cumprimentei-o na estação, e, tendo ele aceito o convite para que se hospedasse em minha residência, para lá nos dirigimos, a pé.

Velho hábito de Sobral, e de todas as cidades do interior, o nosso hóspede veio a conhecer, depois do jantar, cerca das sete horas, quando passamos a conversar nas cadeiras postas na calçada.

A obscuridade se adensava numa noite sem lua.

Em tom de surpresa, Mr. Barnett me indaga:

- Não temos luz hoje?!

- Infelizmente não é só hoje, respondi-lhe.

A decepção não o fez pasmar-se, senão que para logo exclamou com veemência:

- Uma cidade destas não pode passar mais tempo sem luz elétrica! Por que ninguém se lembrou disso?

- Ainda não, expliquei-lhe, por exigir a inversão de grande capital só obtive mediante empréstimo. Mas  estou certo de que bom lucro está reservado a quem tomar a iniciativa.

No decorrer da palestra, manifestando interesse crescente, Mr. Barnett ia se informando quanto à população da cidade e à sua área edificada.

Pelas 7 horas da manhã seguinte, saímos a cavalo em visita a vários pontos. A certa altura Barnett me pergunta: “Onde mora a população pobre?”

Rumamos para Cruz das Almas e dali para a rua das Pedrinhas, do outro lado do Rio Acaraú. Ante o panorama geral da cidade, Barnett mais empolgado ficou:

- É grande! Maior do que eu esperava!

Após o almoço, levei-o à coletoria federal, a fim de proporcionai-lhe indicações de cadastros. Na mesma tarde apresentei-o ao prefeito; anunciei ao Coronel Frederico Gomes Parente que Mr. Barnett estava disposto a contratar a instalação da luz elétrica em Sobral, apenas dependendo da outorga oficial.

O prefeito, colhido embora de surpresa, mostrou-se inteiramente solidário, e, como estavam para encerrar-se os trabalhos da Assembleia Estadual, deu-se pressa de recomendar Mr. Barnett ao deputado Emilio Gomes, seu irmão.

Não havia tempo a perder; Barnett decidiu interromper a projetada viagem a outras cidades (Ipú e Crateús), e regressou prontamente a Fortaleza, via Camocim.

Na capital do Estado, transcorridos três meses, era lavrado o contrato de instalação e arrendamento de uma usina fornecedora de energia para luz e força motriz, tendo assinado o respectivo Termo, a 5 de dezembro de 1916, como Presidente do Ceará, o ilustre e saudoso sobralense Dr. João Thomé de Saboia e Silva. “A Ordem” publicou na integra o contrato, sob o título “Sobral às claras”.

Rezava esse instrumento que a iluminação pública seria feita por lâmpadas de cinquenta velas penduradas em postes de madeira lavrada com braço de ferro curvado e com refletor. A luz seria acesa meia hora depois do pôr-do-sol e continuaria até meia noite. Quando houvesse luar, seria apagada meia hora depois do ter nascido a lua, e quando o pôr-da-lua se verificasse entre dezenove e vinte e três horas, a luz seria acesa meia hora antes deste ocaso.

Ao assinar o contrato com o Estado, Oscar Barnett estava convencido de que lhe não seria difícil constituir a empresa arrendatária, ou, na pior nas hipóteses, sub-rogar nos direitos e obrigações da exclusividade algum capitalista interessado, que o remunerasse satisfatoriamente e a quem transferiria o contrato.

Nem uma coisa, nem outra, e o contrato caducou,

Igual destino teve a concessão subsequente, desta feita adjudicada pela Câmara Municipal de Sobral ao Dr. José Marinho de Andrade, por instrumento que a 10 de maio de 1920 foi sancionado pelo prefeito Dr. José Jácome de Oliveira, sendo secretário da Câmara o jovem Renato Borges. A imprensa sobralense divulgou o texto.

Oriano Mendes

Tivemos, por fim, uma iniciativa que vingou, a Companhia Industrial de Força e Luz, incorporada em 1924 e inaugurada em 1926; e para seu êxito, sabem-no todos os sobralenses, decisivamente concorreu o dinamismo da Oriano Mendes, a quem Sobral deve outras relevantes serviços em diferentes setores da sua atividade; na expansão do comércio, da indústria, da lavoura, e sobretudo da nossa organização bancária, pois deve-se a ele, dentre tantas realizações meritórias a fundação do primeiro Banco.

Não façamos perto ainda. Já que estamos falando de iluminação pública, lembre-se que Sobral a teve por duas vezes, antes da elétrica. A primeira em 1879, a 25 de março, cujo contrato, ao que consta importando em Rs. 14.000$000, foi firmado pelo Coronel Ernesto Deocleciano de Albuquerque. As condições estipulavam o suprimento de duzentos postes de aroeira ou de outra madeira de lei. Os lampiões, preparados em Sobral, eram providos de um recetáculo de gás “globo” ou nafta. A título de experiência, no dia 17 de outubro de 1879, foi iluminada a frente da casa do Coronel Ernesto.

Começaram os trabalhos de assentamento dos postes nos lugares em que se supos serem mais úteis. O critério não deu bom resultado, pois variando a distância de um poste a outro, parece que primou pela ineficácia. Além disto, o gás globo não era tão adequado como se esperava. Bem ou mal, todavia, prestou utilidade até o ano de…

A segunda instalação data de 1893, quando nomeado intendente o Dr. Alfredo de Andrade. Os antigos postes, e creio também os lampiões, foram aproveitados, passando a consumir querosene. O Dr. Alfredo de Andrade foi um intendente muito benquisto, boníssimo, estimado inclusive por seus adversários políticos.

Encerrando estas notas, desejo por um momento volver à época da visita do Mr. Barnett. Deu-me ele de presente uma pequena máquina fotográfica Kodak, a primeira que possui e que durante muitos anos foi minha companheira de viagens…

 

Hotel Bela Vista


Esse prédio, por mim muito conhecido, situava-se na esquina das ruas Floriano Peixoto e Anahib Andrade, em diagonal com o prédio do Odésio Cunha, onde na década de 50, em Sobral se comprava armas e munições. Durante muito tempo nele funcionou, com entrada pela porta alta da rua Floriano Peixoto, mostrada na foto, a conhecida pensão ou hotel Bela Vista. No vértice desse prédio era o negócio de despacho do meu tio Cordeiro Florêncio, associado com a Agência do Zé Freitas. Olhando-se a foto, do seu lado esquerdo, onde aparece um jardim, na época referida, morou o sr. Raimundo Aguiar, casado com dona Maria de Jesus, família de bem, ele natural de Mocambo-CÉ, e ela sobralense filha de seu Samuel Ponte. Seu Raimundo Aguiar possuía comércio na rua Cel. Joaquím Ribeiro, cujo nome era Casa Paraguassu. Na outra esquina, com a rua dona Cândida, hoje Lúcia Saboia, funcionava a padaria de seu Salu de Moura, nascido na Serra Grande, homem que ganhou dinheiro, vendendo em carroças, água potável, e sendo o grande concorrende no mesmo negócio, do conhecido Lister Parente, esse filho do seu Pipiu e dona Déborah Ibiapina, casal de bem e meus vizinhos de rua Santo Antônio. A água era puríssima, límpidas e cristalinas, tirada do, na época, majestoso Acaraú, que os podres poderes públicos o transformou num lago estanque, onde proliferam a salsa e as bactérias patogenicas, hoje com odor quase insuportável. Seu Salu era avô do bardo sobralense, J. Udine Vasconcelos, dos prezados Sérgio Sales e Doremberg e de outros, e era nos anos 50 conhecido como O Homem do Chiquerador, que eu não irei explicar as razões dessa denominação, visto que meu comentário está se estendendo por demais, Zezinho Ponte,Jose Carlos Ponte Soares, Cesário Solon,Vicente Cristino Neto Cristino,Sérgio Sales, J.Udine Vasconcelos,J Albertino Silva,Vaumirtes Freire,Francisco José Carneiro Linhares, Francisco Mavignier França, Fernando Jesus, Joscel Vasconcelos e Lucidio Carneiro.


Wilson Belchior