quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

A saga de Branca Dias, de quem descendem muitas famílias sobralenses







Branca Dias e seu marido, Diogo Fernandes Santiago, deixaram vasta descendência.Muitas famílias SOBRALENSES descendem de Branca Dias.
O ano de nascimento de Branca Dias é estimado como sendo 1515 a partir de depoimentos dados por terceiros ao Tribunal do Santo Ofício. O ano aproximado de sua morte em Pernambuco é conhecido graças ao depoimento de um neto de Branca que veio a ser exilado do Brasil por prática de sodomia. Em sua inquirição ocorrida no ano de 1595, o jovem Jorge de Sousa afirma ter conhecido sua avó, Branca Dias, e diz que ela teria morrido seis ou sete anos atrás, ou seja, entre 1588 e 1589[2].
Com uma existência entre história e lenda, considerada uma das heroínas do Brasil Colonial e de Pernambuco, Branca Dias foi, no Brasil do século XVI, a primeira mulher portuguesa a manter uma «esnoga» (sinagoga) em suas terras, a primeira «mestra laica de meninas» e uma das primeiras «senhoras de engenho».
Denunciada pela mãe e pela irmã e presa pela Inquisição nos Estaus, em Lisboa, Branca Dias embarca para o Brasil com sete filhos, juntando-se ao marido, Diogo Fernandes, vivendo ambos entre Camaragibe e Olinda, onde tiveram mais quatro filhos (também educou uma enteada, Briolanja Fernandes).
Com a primeira visitação do Santo Ofício ao Brasil, em finais do século XVI, filhos e netos de Branca Dias são presos sob a acusação de reconversão ao judaísmo e enviados para Lisboa, onde foram igualmente punidos em autos-de-fé.
Sua história é cheia de nuances: da infância no Minho à velhice em Olinda, a sua prisão em Lisboa, a existência perturbada no engenho de açúcar, o levantamento da casa grande de Camaragibe e da casa urbana da rua dos Palhares (ainda hoje existentes), o convívio com Duarte Coelho, primeiro capitão donatário de Pernambuco, a morte de Pedro Álvares da Madeira, comido pelos tupinambás, o candomblé dos escravos pretos, os terrores de uma nova geografia e uma nova fauna, o martírio do povo miúdo português no Novo Mundo.
Com direção de Samy Waitzberg, o curta documental Branca Dias faz um resumo biográfico da personagem através de uma entrevista com o pesquisador cearense Cândido Pinheiro Koren de Lima.[3]

Halloween do Recife: Conheça a lenda do fantasma de Branca Dias

A lenda fala sobre uma judia, chamada Branca Dias, que foi perseguida e morta pela inquisição católica.



Pouco conhecida pela população em geral, a judia portuguesa Branca Dias, que viveu no século 16 entre Portugal e Brasil, deveria merecer muitas páginas nos livros de História, e especialmente na história de Pernambuco e de Camaragibe. Símbolo de resistência à opressão e ao obscurantismo, ela sobreviveu à Inquisição e foi uma das primeiras mulheres a atravessar o Atlântico, vindo juntar-se ao marido, Diogo Fernandes, em 1545, trazendo sete dos onze filhos que veio a ter. Mesmo não muito divulgada, sua vida já foi homenageada em músicas, histórias em quadrinhos, livros e até um videodocumentário. Ah, dizem que seu fantasma assombra os visitantes de um riacho na zona oeste do Recife.

Ainda nos primórdios do Brasil Colônia, o comerciante português Diogo Fernandes ganhou de Duarte Coelho a sesmaria de Camaragibe, onde deveria fundar um engenho de cana (onde hoje fica a Casa de Maria Amazonas, na entrada da cidade de Camaragibe). Era 1540. Diogo veio na frente preparar o terreno para trazer a família para o Brasil, deixando Branca e os filhos em Portugal, onde ela terminou sendo delatada ao Santo Ofício pela própria mãe e uma irmã (também encarceradas), e presa nas masmorras de Lisboa. Ali, Branca passou dois anos terríveis, sem contato com os filhos e, depois de solta, conseguiu fugir para o Brasil.


Mas aí já era 1545 e Diogo Fernandes havia tido uma filha com Madalena Gonçalves, a empregada que viera com ele de Portugal. A menina chamava-se Briolanja Fernandes. Apesar da decepção, Branca Dias perdoou o marido e aceitou que tanto a menina como a mãe dela continuassem vivendo em sua casa.  

Pioneirismo 

Branca Dias não somente era uma das raras mulheres que sabiam ler no Brasil do século 16. Foi também a primeira judia a praticar o judaísmo nas Américas. Ela e o marido tinham, além do engenho, uma casa em Olinda. Em ambas as casas, mantinham espaços secretos para os cultos judaicos (esnogas), onde reuniam outros criptojudeus, como eram conhecidos os cristãos-novos que continuavam a praticar secretamente o judaísmo, sob constante ameaça de serem delatados à Inquisição. 

Escola para moças 

Contam os relatos históricos que, por volta de 1555, os índios tupinambás atacaram o Engenho Camaragibe, acabaram com o canavial e derrubaram suas edificações, inclusive a Casa Grande. Prenderam o sócio de Diogo Fernandes, Pedro Álvares Madeira, e o devoraram em um ritual antropofágico. Destruído o engenho, Branca decidiu abrir uma escola de moças em Olinda, com o intuito de ajudar no orçamento doméstico. Eram muitas bocas a alimentar, pois o casal já tinha sua prole completa, constituída por três filhos e oito filhas, dentre os quais Brites, que nascera corcunda e deficiente mental, e Manoel Afonso, que nasceu sem os braços. Essas crianças foram, inclusive, alvo de atenção especial dos pais. Branca, pessoalmente, ensinou Manoel Afonso a escrever com os dedos dos pés; e, para Brites, guardou a digníssima função de ser a “guardiã da Torá”, coisa incomum às mulheres.

Após o falecimento de seu marido, em 1567, Branca tornou-se a primeira senhora de engenho de que se tem notícia, permanecendo dez anos à frente do que sobrara do Engenho Camaragibe, já que a maior parte das terras teve que ser vendida. Com tantos filhos para criar, e diante das dificuldades, mudou-se para Olinda, onde fundou a  primeira Escola de Prendas Domésticas do Brasil. E assim passou a se dedicar totalmente à educação de meninas “para o disputado mercado matrimonial”, ensinando a elas boas maneiras, a lavar, costurar, cozinhar e tomar conta de uma casa. Branca morreu em 1574. 

Lenda 


Branca Dias não foi só a primeira professora de meninas, nem a fundadora da primeira sinagoga de Pernambuco, nem a primeira senhora de engenho. Ela também virou personagem de uma conhecida lenda. Dizem que o Riacho do Prata, em Dois Irmãos, tem esse nome porque ela teria lançado suas joias de prata ali quando soube da chegada da Inquisição ao Brasil. E que até hoje o fantasma dela permanece nas redondezas, vigiando seu tesouro afundado. 

Sobre essa assombração, Carlos Drummond de Andrade escreveu estes versos: ‘É acusada de judaísmo/ Já vão prendê-la/ Atira joias e prataria na correnteza/ A água vira Riacho de Prata/ Morre queimada no santo lume da Inquisição em Portugal/ Reaparece na Paraíba, em Pernambuco/ Sob o luar toda de branco/ Sandálias brancas e cinto azul-ouro…’  

Descendentes 

Fascinante, a vida de Branca Dias inspirou diversas obras, como livros (Memórias de Branca Dias, de Miguel Real; Branca Dias, O Martírio, de Arnaldo Niskier; e Branca Dias, de Cândido Pinheiro Koren de Lima); a peça O Santo Inquérito, de Dias Gomes; a canção Branca Dias, de Edu Lobo; outra música de mesmo nome, da cantora brasileira Fortuna Safdié (que gravou um clipe com a participação de Lia de Itamaracá); o documentário Branca Dias, Identidade, Perseguição e Resistência, de Samy Waitzberg.  

A versão fantasmagórica de que ela assombra os visitantes do Riacho do Prata está retratada nas histórias em quadrinhos Assombrações do Recife Antigo, da pernambucana Roberta Cirne, e A Máscara da Morte Branca, do baiano Alexey Dodsworth.  

Fantasma ou não, Branca Dias vive em muitas almas nordestinas. Com uma descendência gigantesca, o casal Branca e Diogo Fernandes está na origem genealógica do povo judeu que vive até hoje nesta e em outras partes do país. Começando pelos 11 filhos e 27 netos, sua descendência tem hoje, entre outros milhares, a cantora Marisa Monte e o político Ciro Gomes, por exemplo. 

Fontes consultadas: 
RODRIGUES, Maria de Lourdes Neves Baptista. Disponível em: http://engenhosdepernambuco.blogspot.com.br/ Data de acesso: dia/mês/ano
http://www.morasha.com.br/ 
Wikipedia
http://www.orecifeassombrado.com/tag/riacho-do-prata/
BRANCA DIAS – Identidade, Perseguição, Resistência (2020), de Samy Waitzberg 



 



domingo, 12 de dezembro de 2021

A ILUMINAÇÃO ELÉTRICA DE SOBRAL

 


Nestas notas, cabe a vez de recordar um episódio intimamente relacionado com o primeiro projeto de fornecimento de luz elétrica à minha cidade natal.

Não fora, agora, o meu depoimento, passaria ignorado.

Em setembro de 1916 residia em Sobral, onde me havia estabelecido àquele ano, no mesmo prédio (construído em 1873) que fora sede da firma comercial de meu falecido pai durante longo tempo e ainda hoje de minha propriedade.

Oscar Harry Barnett

J. Adonias & Cia., de Camocim, de quem era eu agente em Sobral, telegrafaram-me para receber o Sr. Oscar Harry Barnett, norte-americano, gerente da Standard Oil em Fortaleza e que pela primeira vez visitava os seus clientes da zona norte.

O trem de “lastro” em que ele viajara, chegou a Sobral às quatro e meia de uma tarde abrasadora.

Cumprimentei-o na estação, e, tendo ele aceito o convite para que se hospedasse em minha residência, para lá nos dirigimos, a pé.

Velho hábito de Sobral, e de todas as cidades do interior, o nosso hóspede veio a conhecer, depois do jantar, cerca das sete horas, quando passamos a conversar nas cadeiras postas na calçada.

A obscuridade se adensava numa noite sem lua.

Em tom de surpresa, Mr. Barnett me indaga:

- Não temos luz hoje?!

- Infelizmente não é só hoje, respondi-lhe.

A decepção não o fez pasmar-se, senão que para logo exclamou com veemência:

- Uma cidade destas não pode passar mais tempo sem luz elétrica! Por que ninguém se lembrou disso?

- Ainda não, expliquei-lhe, por exigir a inversão de grande capital só obtive mediante empréstimo. Mas  estou certo de que bom lucro está reservado a quem tomar a iniciativa.

No decorrer da palestra, manifestando interesse crescente, Mr. Barnett ia se informando quanto à população da cidade e à sua área edificada.

Pelas 7 horas da manhã seguinte, saímos a cavalo em visita a vários pontos. A certa altura Barnett me pergunta: “Onde mora a população pobre?”

Rumamos para Cruz das Almas e dali para a rua das Pedrinhas, do outro lado do Rio Acaraú. Ante o panorama geral da cidade, Barnett mais empolgado ficou:

- É grande! Maior do que eu esperava!

Após o almoço, levei-o à coletoria federal, a fim de proporcionai-lhe indicações de cadastros. Na mesma tarde apresentei-o ao prefeito; anunciei ao Coronel Frederico Gomes Parente que Mr. Barnett estava disposto a contratar a instalação da luz elétrica em Sobral, apenas dependendo da outorga oficial.

O prefeito, colhido embora de surpresa, mostrou-se inteiramente solidário, e, como estavam para encerrar-se os trabalhos da Assembleia Estadual, deu-se pressa de recomendar Mr. Barnett ao deputado Emilio Gomes, seu irmão.

Não havia tempo a perder; Barnett decidiu interromper a projetada viagem a outras cidades (Ipú e Crateús), e regressou prontamente a Fortaleza, via Camocim.

Na capital do Estado, transcorridos três meses, era lavrado o contrato de instalação e arrendamento de uma usina fornecedora de energia para luz e força motriz, tendo assinado o respectivo Termo, a 5 de dezembro de 1916, como Presidente do Ceará, o ilustre e saudoso sobralense Dr. João Thomé de Saboia e Silva. “A Ordem” publicou na integra o contrato, sob o título “Sobral às claras”.

Rezava esse instrumento que a iluminação pública seria feita por lâmpadas de cinquenta velas penduradas em postes de madeira lavrada com braço de ferro curvado e com refletor. A luz seria acesa meia hora depois do pôr-do-sol e continuaria até meia noite. Quando houvesse luar, seria apagada meia hora depois do ter nascido a lua, e quando o pôr-da-lua se verificasse entre dezenove e vinte e três horas, a luz seria acesa meia hora antes deste ocaso.

Ao assinar o contrato com o Estado, Oscar Barnett estava convencido de que lhe não seria difícil constituir a empresa arrendatária, ou, na pior nas hipóteses, sub-rogar nos direitos e obrigações da exclusividade algum capitalista interessado, que o remunerasse satisfatoriamente e a quem transferiria o contrato.

Nem uma coisa, nem outra, e o contrato caducou,

Igual destino teve a concessão subsequente, desta feita adjudicada pela Câmara Municipal de Sobral ao Dr. José Marinho de Andrade, por instrumento que a 10 de maio de 1920 foi sancionado pelo prefeito Dr. José Jácome de Oliveira, sendo secretário da Câmara o jovem Renato Borges. A imprensa sobralense divulgou o texto.

Oriano Mendes

Tivemos, por fim, uma iniciativa que vingou, a Companhia Industrial de Força e Luz, incorporada em 1924 e inaugurada em 1926; e para seu êxito, sabem-no todos os sobralenses, decisivamente concorreu o dinamismo da Oriano Mendes, a quem Sobral deve outras relevantes serviços em diferentes setores da sua atividade; na expansão do comércio, da indústria, da lavoura, e sobretudo da nossa organização bancária, pois deve-se a ele, dentre tantas realizações meritórias a fundação do primeiro Banco.

Não façamos perto ainda. Já que estamos falando de iluminação pública, lembre-se que Sobral a teve por duas vezes, antes da elétrica. A primeira em 1879, a 25 de março, cujo contrato, ao que consta importando em Rs. 14.000$000, foi firmado pelo Coronel Ernesto Deocleciano de Albuquerque. As condições estipulavam o suprimento de duzentos postes de aroeira ou de outra madeira de lei. Os lampiões, preparados em Sobral, eram providos de um recetáculo de gás “globo” ou nafta. A título de experiência, no dia 17 de outubro de 1879, foi iluminada a frente da casa do Coronel Ernesto.

Começaram os trabalhos de assentamento dos postes nos lugares em que se supos serem mais úteis. O critério não deu bom resultado, pois variando a distância de um poste a outro, parece que primou pela ineficácia. Além disto, o gás globo não era tão adequado como se esperava. Bem ou mal, todavia, prestou utilidade até o ano de…

A segunda instalação data de 1893, quando nomeado intendente o Dr. Alfredo de Andrade. Os antigos postes, e creio também os lampiões, foram aproveitados, passando a consumir querosene. O Dr. Alfredo de Andrade foi um intendente muito benquisto, boníssimo, estimado inclusive por seus adversários políticos.

Encerrando estas notas, desejo por um momento volver à época da visita do Mr. Barnett. Deu-me ele de presente uma pequena máquina fotográfica Kodak, a primeira que possui e que durante muitos anos foi minha companheira de viagens…

 

Hotel Bela Vista


Esse prédio, por mim muito conhecido, situava-se na esquina das ruas Floriano Peixoto e Anahib Andrade, em diagonal com o prédio do Odésio Cunha, onde na década de 50, em Sobral se comprava armas e munições. Durante muito tempo nele funcionou, com entrada pela porta alta da rua Floriano Peixoto, mostrada na foto, a conhecida pensão ou hotel Bela Vista. No vértice desse prédio era o negócio de despacho do meu tio Cordeiro Florêncio, associado com a Agência do Zé Freitas. Olhando-se a foto, do seu lado esquerdo, onde aparece um jardim, na época referida, morou o sr. Raimundo Aguiar, casado com dona Maria de Jesus, família de bem, ele natural de Mocambo-CÉ, e ela sobralense filha de seu Samuel Ponte. Seu Raimundo Aguiar possuía comércio na rua Cel. Joaquím Ribeiro, cujo nome era Casa Paraguassu. Na outra esquina, com a rua dona Cândida, hoje Lúcia Saboia, funcionava a padaria de seu Salu de Moura, nascido na Serra Grande, homem que ganhou dinheiro, vendendo em carroças, água potável, e sendo o grande concorrende no mesmo negócio, do conhecido Lister Parente, esse filho do seu Pipiu e dona Déborah Ibiapina, casal de bem e meus vizinhos de rua Santo Antônio. A água era puríssima, límpidas e cristalinas, tirada do, na época, majestoso Acaraú, que os podres poderes públicos o transformou num lago estanque, onde proliferam a salsa e as bactérias patogenicas, hoje com odor quase insuportável. Seu Salu era avô do bardo sobralense, J. Udine Vasconcelos, dos prezados Sérgio Sales e Doremberg e de outros, e era nos anos 50 conhecido como O Homem do Chiquerador, que eu não irei explicar as razões dessa denominação, visto que meu comentário está se estendendo por demais, Zezinho Ponte,Jose Carlos Ponte Soares, Cesário Solon,Vicente Cristino Neto Cristino,Sérgio Sales, J.Udine Vasconcelos,J Albertino Silva,Vaumirtes Freire,Francisco José Carneiro Linhares, Francisco Mavignier França, Fernando Jesus, Joscel Vasconcelos e Lucidio Carneiro.


Wilson Belchior

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Jornais sobralenses




O nº 1 de “O Tabira”, o primeiro periódico sobralense e o quinto da província do Ceará, é de 14 de agosto de 1864, publicando-se aos domingos até 29 de dezembro desse ano. Tinha seu prelo de madeira na Tipografia Constitucional que Manoel da Silva Miragaya, piauiense, seu proprietário, trouxera de Terceira e instalara na antiga rua dos Ourives.

De 1864 é também “A Sociedade”, enquanto se organizava “O Sobral”, que sucedeu ao “Tabira”, como órgão liberal, aparecendo em janeiro de 1865 e cessando em dezembro de 1866. Colaboravam n’ “O Sobral” os drs. Paula Pessoa, Rodrigues Junior, Barbosa Lira e outros.

A Tipografia Constitucional passou então a publicar “A Consciência”, de janeiro a setembro de 1867, em que a política cedeu lugar à literatura.

Sete anos ficou a nossa cidade sem o seu próprio jornal, até que, a 3 de maio de 1874, José Rodrigues dos Santos fundou o “O Sobralense”, cuja direção no mês seguinte passou ao padre João Ramos, auxiliado na redação por Zacarias Gondim, José Ferreira Lemos, José Vicente Franca. Impresso a princípio na Tipografia Constitucional, veio a ter oficina própria no largo da Matriz. Desapareceu em 1887.

Antonio Pereira de Menezes, que conheci pelo apelido de Antonio Pereira Zigue-Zague, foi o fundador do jornalzinho de que recebeu alcunha, cujo primeiro número data de 12 de novembro de 1875, impresso na tipografia do “Sobralense”. O “Zigue-Zague” dizia-se “aristarco, inóxio”, foi o primeiro jornal humorístico de Sobral. Antonio Pereira era, aliás, exímio caligrafo e competente guarda-livros, e o foi por mais de 50 anos do Coronel Ernesto Deocleciano, até falecer.

Em 1876 tivermos apenas “O Zéfiro” e em 1877 “A Juventude”, aparecido em 15 de novembro, impresso na tipografia do “Sobralense”.

Da mesma tipografia, a 15 de maio de 1881, saia o 1º número d’ “O Mulato”, que durou apenas seus meses.

A data de 15 de junho de 1881 registra o aparecimento da “Gazeta de Sobral”, iniciativa de Manoel Arthur da Frota, que comprou no Rio de Janeiro o seu equipamento gráfico para jornal de grande formato, com prelo de ferro montado por Francisco Luiz de Vasconcelos, tendo como impressor o sobredito Antonio Pereira de Menezes.

Havia, pois, nesta altura, dois periódicos em circulação, o “Sobralense” e o “Gazeta de Sobral”, mas no curso da existência deles surgiram vários jornais, alguns efémeros, outros duradores.

Em 1882 nenhum novo jornal apareceu, porém no ano seguinte surgiram “O Estandarte”, “A Rabeca” e ‘O Calabrete”, respetivamente em 10 de abril, 5 de julho e 25 de agosto, os dois primeiros impressos na oficina do “Sobralense” e o último na “Gazeta de Sobral”. Fez sucesso “O Calabrete”, cuja redação era chefiada pelo professor José Joaquim de Oliveira Praxedes.

Nasceram e morreram em 1884 “O Rouxinol” (de março a setembro) e “O Porvir” (de maio a novembro), ambos editados pela “Gazeta de Sobral”, tendo aquele como redatores João Thomé, Ruy Belfort Sobrinho, José Alcides Gomes e Torquato Rufino Jorge de Souza, que agitavam ideias políticas.

De 1886, além de “O Viajante”, é “O Batel”.

Diversamente do que aconteceu na última década do século passado, entramos em fase de intensa atividade periodística. Em 1901 saíram “O Novo Século”, “O Diabo”, “A Palavra” e “O Canivete”; em 1902, “A Pena”, “O Come Couro”, “O Engraxador”, “O Espião”, “O Charuto”, “A Coisa”, “O Atleta”, “Um Pouco de Tudo”. Da safra de 1902 o produto mais viçoso é o “Itacolomy”, sob a direção política do Coronel José Ignácio Alves Parente, redação a cargo do Dr. Waldemiro Cavalcanti. Em 1903 converteu-se no “Correio de Sobral”.  Waldemiro Cavalcanti, natural de Granja, contava apenas 11 anos de idade ao fundar na cidade do seu nascimento um jornal intitulado “Ensaio”, em 1880. Em 1891 assumiu a direção de “Libertador” (em Fortaleza) e mais tarde (1904) o “Jornal do Ceará”, juntamente com Agapito dos Santos, em oposição ao Dr. Accioly.

Gazetas miúdas continuaram a surgir. Em 1903 tivemos “O Chicote”, “O Trocista”, “O Lábaro” (redator Paixão Filho), “A Caveira”, “O Pandeiro”, O Morcego” e “Zig-Zag”, pequena revista de Paixão Filho. Em 1906 houve somente uma estreia, “O Philomático”, jornalzinho publicado pelo Colégio José de Alencar, de Sobral, tendo como redator Raimundo Cela.

Façamos uma referência especial a “O Rebate”, que apareceu a 21 de abril de 1907 fundado por Vicente Loyola. Antes de dedicar-se ao jornalismo, Loyola trabalhou no comércio de Sobral, como auxiliar de escritório, inicialmente no estabelecimento de Esperidião Saboia de Albuquerque, e depois na casa comercial de Antonio Regino do Amaral e no armazém de José Figueira de Saboia & Cia. Do simples noticiarista n’ “A Ordem” e “A Quinzena” e fundou “O Rebate”, que alcançou quase três lustros de existência, desaparecendo com a morte do fundador, em novembro de 1919. Outro Jornal que começou a circular em 1907 foi “A Tribuna”, desde 19 de setembro, sob a direção de Clodoveu de Arruda.

Entre 1908 e 1915 circularam numerosos jornal novos, porém de escassa tiragem, excepto “O Nortista”, de Craveiro Filho e Newton Craveiro, que durou seis anos, ‘A Luta”, de Deolindo Barreto, que durou dez anos. Limitamo-nos, pois, a enumerar os pequenos periódicos dessa quadra: “A Evolução”, de Vicente Rodrigues dos Santos”; “O Imperial’1, de Paião Filho, 1908; “O Corymb”, “A Patria”, “A Instrução”, “A Minhoca”, “Via Lactea”, “O Cabresto”, “A Chaleira”, “A Flexa”, “O Congresso”, “O Mirafone”, em 1910; “A Honra”, 1911; A Mão Negra”, 1913; “o Monóculo”, “O Grande”, “o Binóculo”, “Atlanta”, “Mignon”, 1914. Finalmente, nesse lapso de tempo, “A Época, em 27 de julho de 1915, fundado por José Plutarco Rodrigues Lima, e, ainda em 1915, “O Cinema-Club”, órgão do Clube dos Democratas, fundado e dirigido pelo autor destas notas.

Os fundadores d’ “O Nortista”, além de experimentados homens de imprensa, publicaram bons livros; Piragibe Newton Craveiro, dois ensaios de sociologia e didática, a Craveiro Filho, seu irmão, peças de  teatro.

Consumado jornalista foi também o fundador d’ “A Luta”, meu amigo Deolindo Barreto Lima, trazendo para o seu jornal e longo tirocínio adquirido n’ “A Província do Pará”, o tradicional diário de Belém, de onde voltou em 1913  para lançar em Sobral o seu combativo semanário, cujo lema era proverbial: conta-se o caso como o caso foi; o cão é cão, o boi é boi. Alvejado por arma homicida, tombou como viveu, lutando.

Desaparecendo “A Luta” em junho de 1924, após a morte de Deolindo Barreto, continuaram a circular em Sobral dois importantes semanários: “A Ordem”, fundada em 7 de setembro de 1916, e o Correio da Semana”, em 31 de março de 1918.

Ernesto Marinho de Albuquerque Andrade e Francisco das Chagas Araújo fundaram “A Ordem” para propaganda do governo João Thomé, convidaram para a sua direção o Dr. Plínio Pompeu de Saboia Magalhães, que passou o cargo um ano depois a Antonio Craveiro Filho. Craveiro permaneceu nesse posto até o seu falecimento, a 23 de julho de 1945. Era um jornalista sagaz, vibrante, amigo da sua terra; com ele tive o prazer de colaborar quando organizou em 1941 o livro comemorativo do centenário de Sobral.

Em seu 32º ano se encontra o “Correio da Semana”, o jornal sobralense de mais longa existência, fundado por D. José Tupynambá da Frota. Para dirigi-lo na fase inicial foi escolhido o Padre José de Lima, tendo como redatores os padres Leopoldo Fernandes e Joaquim Severiano. Esteve na sua direção, desde 1934, a convite de D. José, o jornalista Luiz Jácome Filho. O Padre Sabino Guimarães Loyola, antigo colaborador do “Correio da Semana”, foi seu diretor até a sua nomeação para Reitor do Seminário Diocesano, substituindo-o o Padre Tibúrcio Gonçalves de Paula.


Alberto Amaral (1941)