quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Jornais sobralenses




O nº 1 de “O Tabira”, o primeiro periódico sobralense e o quinto da província do Ceará, é de 14 de agosto de 1864, publicando-se aos domingos até 29 de dezembro desse ano. Tinha seu prelo de madeira na Tipografia Constitucional que Manoel da Silva Miragaya, piauiense, seu proprietário, trouxera de Terceira e instalara na antiga rua dos Ourives.

De 1864 é também “A Sociedade”, enquanto se organizava “O Sobral”, que sucedeu ao “Tabira”, como órgão liberal, aparecendo em janeiro de 1865 e cessando em dezembro de 1866. Colaboravam n’ “O Sobral” os drs. Paula Pessoa, Rodrigues Junior, Barbosa Lira e outros.

A Tipografia Constitucional passou então a publicar “A Consciência”, de janeiro a setembro de 1867, em que a política cedeu lugar à literatura.

Sete anos ficou a nossa cidade sem o seu próprio jornal, até que, a 3 de maio de 1874, José Rodrigues dos Santos fundou o “O Sobralense”, cuja direção no mês seguinte passou ao padre João Ramos, auxiliado na redação por Zacarias Gondim, José Ferreira Lemos, José Vicente Franca. Impresso a princípio na Tipografia Constitucional, veio a ter oficina própria no largo da Matriz. Desapareceu em 1887.

Antonio Pereira de Menezes, que conheci pelo apelido de Antonio Pereira Zigue-Zague, foi o fundador do jornalzinho de que recebeu alcunha, cujo primeiro número data de 12 de novembro de 1875, impresso na tipografia do “Sobralense”. O “Zigue-Zague” dizia-se “aristarco, inóxio”, foi o primeiro jornal humorístico de Sobral. Antonio Pereira era, aliás, exímio caligrafo e competente guarda-livros, e o foi por mais de 50 anos do Coronel Ernesto Deocleciano, até falecer.

Em 1876 tivermos apenas “O Zéfiro” e em 1877 “A Juventude”, aparecido em 15 de novembro, impresso na tipografia do “Sobralense”.

Da mesma tipografia, a 15 de maio de 1881, saia o 1º número d’ “O Mulato”, que durou apenas seus meses.

A data de 15 de junho de 1881 registra o aparecimento da “Gazeta de Sobral”, iniciativa de Manoel Arthur da Frota, que comprou no Rio de Janeiro o seu equipamento gráfico para jornal de grande formato, com prelo de ferro montado por Francisco Luiz de Vasconcelos, tendo como impressor o sobredito Antonio Pereira de Menezes.

Havia, pois, nesta altura, dois periódicos em circulação, o “Sobralense” e o “Gazeta de Sobral”, mas no curso da existência deles surgiram vários jornais, alguns efémeros, outros duradores.

Em 1882 nenhum novo jornal apareceu, porém no ano seguinte surgiram “O Estandarte”, “A Rabeca” e ‘O Calabrete”, respetivamente em 10 de abril, 5 de julho e 25 de agosto, os dois primeiros impressos na oficina do “Sobralense” e o último na “Gazeta de Sobral”. Fez sucesso “O Calabrete”, cuja redação era chefiada pelo professor José Joaquim de Oliveira Praxedes.

Nasceram e morreram em 1884 “O Rouxinol” (de março a setembro) e “O Porvir” (de maio a novembro), ambos editados pela “Gazeta de Sobral”, tendo aquele como redatores João Thomé, Ruy Belfort Sobrinho, José Alcides Gomes e Torquato Rufino Jorge de Souza, que agitavam ideias políticas.

De 1886, além de “O Viajante”, é “O Batel”.

Diversamente do que aconteceu na última década do século passado, entramos em fase de intensa atividade periodística. Em 1901 saíram “O Novo Século”, “O Diabo”, “A Palavra” e “O Canivete”; em 1902, “A Pena”, “O Come Couro”, “O Engraxador”, “O Espião”, “O Charuto”, “A Coisa”, “O Atleta”, “Um Pouco de Tudo”. Da safra de 1902 o produto mais viçoso é o “Itacolomy”, sob a direção política do Coronel José Ignácio Alves Parente, redação a cargo do Dr. Waldemiro Cavalcanti. Em 1903 converteu-se no “Correio de Sobral”.  Waldemiro Cavalcanti, natural de Granja, contava apenas 11 anos de idade ao fundar na cidade do seu nascimento um jornal intitulado “Ensaio”, em 1880. Em 1891 assumiu a direção de “Libertador” (em Fortaleza) e mais tarde (1904) o “Jornal do Ceará”, juntamente com Agapito dos Santos, em oposição ao Dr. Accioly.

Gazetas miúdas continuaram a surgir. Em 1903 tivemos “O Chicote”, “O Trocista”, “O Lábaro” (redator Paixão Filho), “A Caveira”, “O Pandeiro”, O Morcego” e “Zig-Zag”, pequena revista de Paixão Filho. Em 1906 houve somente uma estreia, “O Philomático”, jornalzinho publicado pelo Colégio José de Alencar, de Sobral, tendo como redator Raimundo Cela.

Façamos uma referência especial a “O Rebate”, que apareceu a 21 de abril de 1907 fundado por Vicente Loyola. Antes de dedicar-se ao jornalismo, Loyola trabalhou no comércio de Sobral, como auxiliar de escritório, inicialmente no estabelecimento de Esperidião Saboia de Albuquerque, e depois na casa comercial de Antonio Regino do Amaral e no armazém de José Figueira de Saboia & Cia. Do simples noticiarista n’ “A Ordem” e “A Quinzena” e fundou “O Rebate”, que alcançou quase três lustros de existência, desaparecendo com a morte do fundador, em novembro de 1919. Outro Jornal que começou a circular em 1907 foi “A Tribuna”, desde 19 de setembro, sob a direção de Clodoveu de Arruda.

Entre 1908 e 1915 circularam numerosos jornal novos, porém de escassa tiragem, excepto “O Nortista”, de Craveiro Filho e Newton Craveiro, que durou seis anos, ‘A Luta”, de Deolindo Barreto, que durou dez anos. Limitamo-nos, pois, a enumerar os pequenos periódicos dessa quadra: “A Evolução”, de Vicente Rodrigues dos Santos”; “O Imperial’1, de Paião Filho, 1908; “O Corymb”, “A Patria”, “A Instrução”, “A Minhoca”, “Via Lactea”, “O Cabresto”, “A Chaleira”, “A Flexa”, “O Congresso”, “O Mirafone”, em 1910; “A Honra”, 1911; A Mão Negra”, 1913; “o Monóculo”, “O Grande”, “o Binóculo”, “Atlanta”, “Mignon”, 1914. Finalmente, nesse lapso de tempo, “A Época, em 27 de julho de 1915, fundado por José Plutarco Rodrigues Lima, e, ainda em 1915, “O Cinema-Club”, órgão do Clube dos Democratas, fundado e dirigido pelo autor destas notas.

Os fundadores d’ “O Nortista”, além de experimentados homens de imprensa, publicaram bons livros; Piragibe Newton Craveiro, dois ensaios de sociologia e didática, a Craveiro Filho, seu irmão, peças de  teatro.

Consumado jornalista foi também o fundador d’ “A Luta”, meu amigo Deolindo Barreto Lima, trazendo para o seu jornal e longo tirocínio adquirido n’ “A Província do Pará”, o tradicional diário de Belém, de onde voltou em 1913  para lançar em Sobral o seu combativo semanário, cujo lema era proverbial: conta-se o caso como o caso foi; o cão é cão, o boi é boi. Alvejado por arma homicida, tombou como viveu, lutando.

Desaparecendo “A Luta” em junho de 1924, após a morte de Deolindo Barreto, continuaram a circular em Sobral dois importantes semanários: “A Ordem”, fundada em 7 de setembro de 1916, e o Correio da Semana”, em 31 de março de 1918.

Ernesto Marinho de Albuquerque Andrade e Francisco das Chagas Araújo fundaram “A Ordem” para propaganda do governo João Thomé, convidaram para a sua direção o Dr. Plínio Pompeu de Saboia Magalhães, que passou o cargo um ano depois a Antonio Craveiro Filho. Craveiro permaneceu nesse posto até o seu falecimento, a 23 de julho de 1945. Era um jornalista sagaz, vibrante, amigo da sua terra; com ele tive o prazer de colaborar quando organizou em 1941 o livro comemorativo do centenário de Sobral.

Em seu 32º ano se encontra o “Correio da Semana”, o jornal sobralense de mais longa existência, fundado por D. José Tupynambá da Frota. Para dirigi-lo na fase inicial foi escolhido o Padre José de Lima, tendo como redatores os padres Leopoldo Fernandes e Joaquim Severiano. Esteve na sua direção, desde 1934, a convite de D. José, o jornalista Luiz Jácome Filho. O Padre Sabino Guimarães Loyola, antigo colaborador do “Correio da Semana”, foi seu diretor até a sua nomeação para Reitor do Seminário Diocesano, substituindo-o o Padre Tibúrcio Gonçalves de Paula.


Alberto Amaral (1941)

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