O nº 1 de “O Tabira”, o primeiro periódico sobralense e o quinto da província do Ceará, é de 14 de agosto de 1864, publicando-se aos domingos até 29 de dezembro desse ano. Tinha seu prelo de madeira na Tipografia Constitucional que Manoel da Silva Miragaya, piauiense, seu proprietário, trouxera de Terceira e instalara na antiga rua dos Ourives.
De 1864 é também “A Sociedade”, enquanto se organizava “O Sobral”, que sucedeu ao “Tabira”, como órgão liberal, aparecendo em janeiro de 1865 e cessando em dezembro de 1866. Colaboravam n’ “O Sobral” os drs. Paula Pessoa, Rodrigues Junior, Barbosa Lira e outros.
A Tipografia Constitucional passou então a publicar “A Consciência”, de janeiro a setembro de 1867, em que a política cedeu lugar à literatura.
Sete anos ficou a nossa cidade sem o seu próprio jornal, até que, a 3 de maio de 1874, José Rodrigues dos Santos fundou o “O Sobralense”, cuja direção no mês seguinte passou ao padre João Ramos, auxiliado na redação por Zacarias Gondim, José Ferreira Lemos, José Vicente Franca. Impresso a princípio na Tipografia Constitucional, veio a ter oficina própria no largo da Matriz. Desapareceu em 1887.
Antonio Pereira de Menezes, que conheci pelo apelido de Antonio Pereira Zigue-Zague, foi o fundador do jornalzinho de que recebeu alcunha, cujo primeiro número data de 12 de novembro de 1875, impresso na tipografia do “Sobralense”. O “Zigue-Zague” dizia-se “aristarco, inóxio”, foi o primeiro jornal humorístico de Sobral. Antonio Pereira era, aliás, exímio caligrafo e competente guarda-livros, e o foi por mais de 50 anos do Coronel Ernesto Deocleciano, até falecer.
Em 1876 tivermos apenas “O
Zéfiro” e em 1877 “A Juventude”, aparecido em 15 de novembro, impresso na
tipografia do “Sobralense”.
Da mesma tipografia, a 15 de maio
de 1881, saia o 1º número d’ “O Mulato”, que durou apenas seus meses.
A data de 15 de junho de 1881
registra o aparecimento da “Gazeta de Sobral”, iniciativa de Manoel Arthur da
Frota, que comprou no Rio de Janeiro o seu equipamento gráfico para jornal de
grande formato, com prelo de ferro montado por Francisco Luiz de Vasconcelos,
tendo como impressor o sobredito Antonio Pereira de Menezes.
Havia, pois, nesta altura, dois
periódicos em circulação, o “Sobralense” e o “Gazeta de Sobral”, mas no curso
da existência deles surgiram vários jornais, alguns efémeros, outros duradores.
Em 1882 nenhum novo jornal
apareceu, porém no ano seguinte surgiram “O Estandarte”, “A Rabeca” e ‘O
Calabrete”, respetivamente em 10 de abril, 5 de julho e 25 de agosto, os dois
primeiros impressos na oficina do “Sobralense” e o último na “Gazeta de
Sobral”. Fez sucesso “O Calabrete”, cuja redação era chefiada pelo professor
José Joaquim de Oliveira Praxedes.
Nasceram e morreram em 1884 “O
Rouxinol” (de março a setembro) e “O Porvir” (de maio a novembro), ambos
editados pela “Gazeta de Sobral”, tendo aquele como redatores João Thomé, Ruy
Belfort Sobrinho, José Alcides Gomes e Torquato Rufino Jorge de Souza, que
agitavam ideias políticas.
De 1886, além de “O Viajante”, é
“O Batel”.
Diversamente do que aconteceu na
última década do século passado, entramos em fase de intensa atividade
periodística. Em 1901 saíram “O Novo Século”, “O Diabo”, “A Palavra” e “O
Canivete”; em 1902, “A Pena”, “O Come Couro”, “O Engraxador”, “O Espião”, “O
Charuto”, “A Coisa”, “O Atleta”, “Um Pouco de Tudo”. Da safra de 1902 o produto
mais viçoso é o “Itacolomy”, sob a direção política do Coronel José Ignácio
Alves Parente, redação a cargo do Dr. Waldemiro Cavalcanti. Em 1903
converteu-se no “Correio de Sobral”. Waldemiro
Cavalcanti, natural de Granja, contava apenas 11 anos de idade ao fundar na
cidade do seu nascimento um jornal intitulado “Ensaio”, em 1880. Em 1891
assumiu a direção de “Libertador” (em Fortaleza) e mais tarde (1904) o “Jornal
do Ceará”, juntamente com Agapito dos Santos, em oposição ao Dr. Accioly.
Gazetas miúdas continuaram a
surgir. Em 1903 tivemos “O Chicote”, “O Trocista”, “O Lábaro” (redator Paixão
Filho), “A Caveira”, “O Pandeiro”, O Morcego” e “Zig-Zag”, pequena revista de
Paixão Filho. Em 1906 houve somente uma estreia, “O Philomático”, jornalzinho
publicado pelo Colégio José de Alencar, de Sobral, tendo como redator Raimundo
Cela.
Façamos uma referência especial a
“O Rebate”, que apareceu a 21 de abril de 1907 fundado por Vicente Loyola.
Antes de dedicar-se ao jornalismo, Loyola trabalhou no comércio de Sobral, como
auxiliar de escritório, inicialmente no estabelecimento de Esperidião Saboia de
Albuquerque, e depois na casa comercial de Antonio Regino do Amaral e no
armazém de José Figueira de Saboia & Cia. Do simples noticiarista n’ “A
Ordem” e “A Quinzena” e fundou “O Rebate”, que alcançou quase três lustros de
existência, desaparecendo com a morte do fundador, em novembro de 1919. Outro
Jornal que começou a circular em 1907 foi “A Tribuna”, desde 19 de setembro,
sob a direção de Clodoveu de Arruda.
Entre 1908 e 1915 circularam
numerosos jornal novos, porém de escassa tiragem, excepto “O Nortista”, de
Craveiro Filho e Newton Craveiro, que durou seis anos, ‘A Luta”, de Deolindo
Barreto, que durou dez anos. Limitamo-nos, pois, a enumerar os pequenos periódicos
dessa quadra: “A Evolução”, de Vicente Rodrigues dos Santos”; “O Imperial’1, de
Paião Filho, 1908; “O Corymb”, “A Patria”, “A Instrução”, “A Minhoca”, “Via
Lactea”, “O Cabresto”, “A Chaleira”, “A Flexa”, “O Congresso”, “O Mirafone”, em
1910; “A Honra”, 1911; A Mão Negra”, 1913; “o Monóculo”, “O Grande”, “o
Binóculo”, “Atlanta”, “Mignon”, 1914. Finalmente, nesse lapso de tempo, “A
Época, em 27 de julho de 1915, fundado por José Plutarco Rodrigues Lima, e,
ainda em 1915, “O Cinema-Club”, órgão do Clube dos Democratas, fundado e
dirigido pelo autor destas notas.
Os fundadores d’ “O Nortista”,
além de experimentados homens de imprensa, publicaram bons livros; Piragibe
Newton Craveiro, dois ensaios de sociologia e didática, a Craveiro Filho, seu
irmão, peças de teatro.
Consumado jornalista foi também o
fundador d’ “A Luta”, meu amigo Deolindo Barreto Lima, trazendo para o seu
jornal e longo tirocínio adquirido n’ “A Província do Pará”, o tradicional
diário de Belém, de onde voltou em 1913
para lançar em Sobral o seu combativo semanário, cujo lema era
proverbial: conta-se o caso como o caso foi; o cão é cão, o boi é boi. Alvejado
por arma homicida, tombou como viveu, lutando.
Desaparecendo “A Luta” em junho
de 1924, após a morte de Deolindo Barreto, continuaram a circular em Sobral
dois importantes semanários: “A Ordem”, fundada em 7 de setembro de 1916, e o
Correio da Semana”, em 31 de março de 1918.
Ernesto Marinho de Albuquerque
Andrade e Francisco das Chagas Araújo fundaram “A Ordem” para propaganda do governo
João Thomé, convidaram para a sua direção o Dr. Plínio Pompeu de Saboia
Magalhães, que passou o cargo um ano depois a Antonio Craveiro Filho. Craveiro
permaneceu nesse posto até o seu falecimento, a 23 de julho de 1945. Era um
jornalista sagaz, vibrante, amigo da sua terra; com ele tive o prazer de
colaborar quando organizou em 1941 o livro comemorativo do centenário de
Sobral.
Em seu 32º ano se encontra o
“Correio da Semana”, o jornal sobralense de mais longa existência, fundado por
D. José Tupynambá da Frota. Para dirigi-lo na fase inicial foi escolhido o
Padre José de Lima, tendo como redatores os padres Leopoldo Fernandes e Joaquim
Severiano. Esteve na sua direção, desde 1934, a convite de D. José, o
jornalista Luiz Jácome Filho. O Padre Sabino Guimarães Loyola, antigo
colaborador do “Correio da Semana”, foi seu diretor até a sua nomeação para
Reitor do Seminário Diocesano, substituindo-o o Padre Tibúrcio Gonçalves de
Paula.
Alberto Amaral (1941)
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