sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Os carnavais de Sobral


Os carnavais de Sobral




Quando ainda não havia os trios elétricos, a baiano mania, o axé-music, o reggae e outros sons desconexos, os carnavais revelavam toda a magia da cultura afro-brasileira, onde o grande forte era a poesia ritmada dos monstros sagrados da música popular, como: Ataulfo Alves, Lamartine Babo, os Orlando Silva e Dias, Ciro Monteiro, Erivelton Martins e sua musa Dalva de Olveira, as Irmãs Batista, Isaurinha Garcia, Moreira da Silva, Elizete Cardoso, Marlene, Elsa Soares, Emilinha Borba, Ângela Maria, Carmem Miranda, Ze Keti e sua inesquecível “Máscara Negra”, Noel Rosa, Pinxinguinha, Cartola, Dunga, Chico Alves, João de Barro, Almirante, Ismael e muitos outros, que perfumavam nosso país com a mais nobre essência de suas almas poéticas.

Em Sobral, o carnaval era, assim como em muitos municípios do Brasil, feito no interior dos clubes, com públicos selecionados, restando para as ruas os desfiles das escolas de samba e de blocos, sendo que estes também acabavam suas programações no interior dos clubes, à época o Derby Club, a AABB e o BNB. Outros clubes também promoviam festa. Entre eles o Clube dos Vinte, O Tabajara Clube, Clube dos Artistas, e também o Derby Club com seus bailes especiais, oferecidos exclusivamente para sócios.

O nosso carnaval era alegre, pacífico, cheio de graça, talco, serpentinas, pierrot`s, colombinas, fantasias artesanais... Um verdadeiro encanto. A juventude limitava-se à bebedeira ininterrupta de quatro dias; os blocos eram o grande atrativo dos clubes. Era comum a presença de carros com alegorias, principalmente os jipes antigos (cara-magra). Ficávamos horas e horas nas filas dos clubes disputando uma entrada. As drogas, depois da bebida,
  não iam além do cheiro no éter e no lança perfume. Os blocos mais famosos eram: Hary – Hary, Hay-Num-Hay, Contras, Metralhas, Abutres (este desfez-se e deu lugar ao bloco Realce, que se tornou o grande campeão dos carnavais), Provetas, Pães, Corsários, Tropikanas, Intocáveis, Filhos de Gandi, Desocupados da Esquina, Metaleiros, É o Bicho, Babás e Bebês, Lero-Lero, Viracopus e outros. Além dos blocos citados, fazia parte da animação o bloco Turma do Funil, da cidade de Cratéus.  Deixaram saudade, lembranças vivas, coisas que o tempo não nos rouba.

Com o desvio das atenções do povo sobralense aos carnavais promovidos nas praias e serras e, logicamente devido ao pouco interesse dos políticos administradores da época em estimularem a resistência dessa tradição, o carnaval em clubes foi perdendo público a cada ano, até se extinguir.

O fim da tradição, nossa alegria de tantos, anos foi exportada para outras cidades. Perdemos o aconchego dos amigos, sempre muito agradável. Sobral também ressentiu-se na perda no setor da economia, uma vez que os carnavais sempre se apresentavam como um opcional de movimentação no comércio de modo geral. Atualmente o BNB está desativado, enquanto  que a AABB mantém o seu tradicional e animado Balmasquê.

O aparecimento de novos ritmos, a liberdade de expressão, a nudez e a disseminação das drogas são alguns dos aspectos que justificam o fim da tradição carnavalesca em nossa cidade, tornando-nos mais uns entre os foliões de outros carnavais.