domingo, 1 de maio de 2011

A Ema da Praça do São João


Esse pequeno ornamento da praça foi injustiçado desde o começo de sua vida, pois na realidade nunca foi ema, mas sim uma belíssima garça real, majestosamente plantada no centro do um minúsculo lago. Mas o populacho achou que aquilo era uma ema, no sentido ridículo, e assim ficou contrariada a ornitologia. Mas a falsa ema tem uma história que envolve muito de pitoresco e que vale a pena ser conhecida. Ei-la:
Falb Rangel, quando construiu a sua casa residencial, na Rua da Aurora, esquina com a Praça da Meruoca (hoje transformada em hotel), encomendou a Pedro Frutuoso, excelente artista sobralense, uma garça de concreto, em tamanho natural, para embelezar o seu jardim, onde permaneceu algum tempo sem novidade.
Quando Falb se mudou para a rua Senador Paula (hoje Av. Dom José), esquina com a rua Cel. Mont’Alverne (hoje residência de José M. Aguiar), sendo a casa desprovida de jardim, a garça foi destituída de seu habitat e relegada a um depósito.
Agripino Sousa, tendo conhecimento da existência da ema e sabendo do destino que tomara, comprou-a por 200.000 $(duzentos mil réis) e levou-a para colocar no jardim de sua recém construída mansão, na praça São Francisco.
A ema permaneceu por muito tempo na sua nova morada, até que um dia Agripino, indo ao mercado público, pediu a um moleque que levasse seu balde de compras até sua residência, mediante remuneração. Por mais que explicasse onde morava, o rapaz não entendia. Por fim o companheiro deste disse haver compreendido a explicação, acrescentando:
• É na casa da ema!
O fato desagradou Agripino, por considerar que havia perdido para a ema a primazia de ser o dono da casa, daí a idéia de se desfazer dela.
Numa de suas visitas a Chico Monte, este falou-lhe neste tom:
“Agripino, você que é um homem inteligente, veja se ajuda o Antenor (então prefeito) a encontrar uma solução para como preencher o centro do passeio que fica em frente ao Teatro São João.”
Agripino pensou logo: “É, agora que eu vou me desfazer da ema!” Aceitou o desafio e pediu a Chico Monte que pusesse Pedro Frutuoso à sua disposição, no que foi atendido. E foi assim que o referido passeio ganhou um belíssimo e poético adorno.
Mas a história da “ema” não termina aqui. O zelador da avenida, Sr. José de Lima, gostou imensamente da “ema” e do Pequeno lago em cuja margem ela ficou instalada. A meninada, com fúria iconoclasta, começou a jogar pedras, latas e papéis de bom-bom dentro do lago, no que foi prontamente impedida.
Devido a luta que bravamente empreendeu, o recebeu de pronto o “carinhoso” apelido de marido da ema, com o qual nunca se conformou. Depois de muitos anos de feliz convivência, o Sr. José de Lima morreu, e no dia de sua morte, uma alma piedosa, à noite envolveu a “ema “num fúnebre crepe, para traduzir a sua “viuvez”.
Até que enfim o bonito animal encontrou um lugar definitivo para ficar. Mas continua “viúva”.
Texto extraído do Jornal “Folha do Acaraú”.

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